domingo, 18 de abril de 2010

A Dor e o Amor


 E se soubéssemos antecipadamente os motivos pelos quais somos levados a passar por determinados sofrimentos na vida? Será que sentiríamos prazer por perceber o sentido dos acontecimentos desagradáveis? Sabemos que não é assim que funcionam os processos dolorosos pelos quais passamos. Certamente qualquer um de nós rejeita a idéia de saber que algo nos trará qualquer inquietação, mínima que seja. Tenho um pontinho de luz lá dentro, bem guardado, que não me deixa esquecer que tudo de ruim que me acontece é para o meu próprio bem e é sempre necessário que tenha ocorrido.
Quando li De Profundis de Oscar Wilde, fiquei identificada com a forma simples, verdadeira e profunda como encarava aqueles anos na prisão. “Não há um só ato que avilte o corpo que eu não deva tentar transformar numa forma de espiritualização da alma.” Ele tem razão. Não tenho a menor dúvida que é assim que deva ser.
Na próxima quarta-feira, 21 de abril, completam 34 anos que perdi minha mãe. Eu tinha 12 anos. Nada fácil crescer, casar, ter filhos, ver os filhos crescendo sem ter ela por perto. Sofrimento para a vida toda, para todo Natal e Reveillon. Leviano seria dizer que viver respirando a falta de alguém não tenha tido importância. Tem as recordações com lágrimas e aquelas cheias de riso.  Mas o tempo trouxe a aceitação pacífica no coração de que era assim que tinha que ser.
Naquele dia, feriado, uma quarta-feira totalmente ensolarada, da janela do hospital onde tudo aconteceu, vi uma praia cheia de crianças brincando, pescadores jogando suas varinhas e meninos soltando pipas. E percebi ali que a vida continuava. Tudo estava em seu lugar lá fora. Apesar da minha desordem interna. A cena externa voltou ao longo dos anos sempre que se fez inverno em meu coração. E a intensidade da compreensão me levou a Dante: “O sofrimento nos aproxima de Deus.”
Ainda assim é preciso ser feliz. Buscar alegrias e compartilhá-las com o marido, os filhos, os amigos. E fica claro que depois do sofrimento, a alegria é arco-íris.
Só posso concluir de novo com Wilde: “Agora acredito que a única explicação possível para a extraordinária quantidade de sofrimento que existe no mundo é o amor, seja ele de que espécie for.”

6 comentários:

  1. Chris,

    Costumo dizer que só depois de um tempo a gente compreende a dimensão da dor, e ainda consegue sair ampliada, acrescida de alguma forma...

    meu carinho a você...

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  2. O que dizem por aí é que a dor é inevitável.
    Mas a vida segue. E vc tem percorrido o caminho de uma forma admirável.
    Prova é a Jujuba! Adoro ela!
    E amei o blog!
    Bjs

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  3. 34 anos...hoje é quarta-feira, também!Independente do dia nossa saudade é a mesma.
    "Quando eu era criança
    Podia chorar nos seus braços
    E ouvir tanta coisa bonita
    Na minha aflição
    Nos momentos alegres
    Sentado ao seu lado, eu sorria
    E, nas horas difíceis
    Podia apertar sua mão"

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  4. Chris,

    Vivi aquele momento muito próxima a vocês. Tenho lembranças tão claras daquela época: a sua mãe no hospital, a casa da sua avó no Campo Grande e da minha mãe (que se foi há 4 anos em 2 de abril) me dando o suporte para que eu pudesse estar junto... nós éramos tão novas...

    Linda a sua expressão escrita! E Oscar Wilde e Dante sabem tudo!

    Que bom poder reencontrá-la!

    Bjs

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  5. O que dizer, Chris... Suspirar, com muitas lágrimas caindo, feliz por poder fazer parte da vida de um ser humano com a alma tão perfumada como você, mas com uma dor no peito pq mesmo sabendo ser para o nosso bem, crescimento epiritual e etc. algumas horas acho q vida muito sofrida e "injusta". Desculpa minha "fraqueza" Te amo. Bj

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  6. Que lindo Anne! Lindo e verdadeiro, Jesus sofreu tanto e nos deixou o exemplo que muitas vezes vamos carregar a nossa Cruz sem entender, apenas nos inspirando de que há algo a aprender, a viver.
    Obrigada por alimentar nossa alma com suas historias e inspirações.
    Um grande beijo.
    Ari.

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